Teorias de aprendizagens existem muitas, cada uma refletindo um momento no tempo e história da humanidade. Enquanto teoria, Haack (2003, apud DEMO, 2009, p. 53) a define como uma construção mental de uma teoria simplificada/idealizada, naturalmente reducionista.
As teorias apoteóticas são autodestrutivas por não serem autocríticas, pois surgiram para explicar tudo sozinhas, serem soberanas e essas características desnudam e as destroem.
A desconstrução de ideias fortalece a cada dia, a cada nova tecnologia de comunicação, rompendo barreiras físicas e estreitando as distâncias entre os grupos humanos, propiciando construções/aprendizagens coletivas entre as pessoas dos países do mundo, conectados a internet.
Esse movimento também é sentido e visto nos processos de alfabetização, pelas seguintes razões:
1ª) A alfabetização não acontece mais apenas na escola.
2ª) As crianças se alfabetizam em qualquer lugar que tenha acesso a internet, não mais somente na escola.
3ª) A criança nativa digital lida intuitivamente com o computador, pois nele há materiais audiovisuais a serem manipulados.
4ª) O interesse em se comunicar é estimulado quando a criança percebe que é possível comunicar-se com seus “coleguinhas” de dentro de casa ou de qualquer outro lugar do mundo.
5ª) Aprende-se a ler de maneira, conforme Gee (2004, apud DEMO, 2009, p. 59) “situada”, pois vivencia virtualmente situações cotidiana de vida.
6ª) A motivação para ler e escrever torna-se turbinada, reforçada, incentivada pelos relacionamentos virtuais, livres da obrigatoriedade escolar.
Segundo CURY (2006, p. 24) “Um dos maiores erros da educação clássica, que bloqueia a formação de pensadores, foi e tem sido o de transmitir o conhecimento pronto, acabado, sem evidenciar o seu processo de produção, o seu rosto histórico.” Esse processo foi quebrado com a popularização da internet, pois o conhecimento tornou-se mais acessível em todos os lugares do mundo.
Em salas de aula, as atividades são impostas as crianças e no mundo virtual elas experimentam uma liberdade autoral, pois se veem como ponto central nesse contexto. Isso sem falar sobre a comunicação virtual entre os colegas, pois implica em autonomia e autoria, criando suas formas de expressões, seus códigos próprios de linguagem, ocorrendo justamente o oposto do que acontece dentro da sala de aula.
CURY (2006, p. 24), ainda diz “Estamos na era da informação, mas as funções mais importantes da inteligência não estão sendo desenvolvidas.” Consequentemente “os homens do futuro serão mais cultos, mas, ao mesmo tempo, mais frágeis emocionalmente, terão mais informação, contudo serão menos íntimos da sabedoria.” Ou seja, a humanidade do futuro será bem informada, porém não saberão, ou não terão segurança suficiente de como utilizar essas informações adequadamente. E nesse contexto a escola tem um papel mediador fundamental: trabalhar e desenvolver as aprendizagens e os conhecimentos.
Abaixo é feito uma analogia entre as alfabetizações feita pela escola tradicional e as feitas pelo uso do computador, sem a presença de um professor.
ALFABETIZAÇÃO
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Pela: ESCOLA |
Por meio do COMPUTADOR |
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A liberdade experimentada na internet é ilusória, porém as sensações sem limites, pudores, sem restrições do mundo físico favorecem o desenvolvimento da imaginação, da criação ilimitada, pois “cada ser humano é um mundo complexo e sofisticado a ser descoberto.” (CURY, 2006, P. 31)
Os novos modos de aprender são múltiplos, visto que os seres humanos desenvolvem habilidades diferentes. Sendo o cérebro o nosso principal equipamento, este distorce a realidade influenciada pelas emoções, reestruturando-a para que possamos entende-la. O pensamento e toda a ciência são inesgotáveis. De acordo com CURY (2006, p. 56) “É inesgotável porque, na esfera da virtualidade, os pensamentos ganham uma plasticidade[1] construtiva e uma liberdade indescritível.”
Dessa forma, muitos estudiosos tentaram explicar o processo de aprendizagem como algo fechado, fixo, acabado que caíram por terra ao longo do tempo, acelerado com a introdução do computador e internet no convívio social/humano.
A navegação pela internet nos possibilita uma liberdade atemporal, indo do passado ao futuro com alguns cliques, simulando o pensamento humano quando acessa suas memórias (auditivas, visuais, táteis, olfativas e paladares) e em questões de milionésimos de segundos nos projetamos, virtualmente, a um determinado tempo e espaço, ou criando uma nova realidade em nossas vidas.
Os ambientes virtuais parecem favorecer modos mais flexíveis de formação da mente, em particular o conceito escrito por Vygotsky: “zona de desenvolvimento proximal”. O conhecimento deveria ser descrito sempre como algo provisório, inacabado e em constante evolução, pois o cérebro está em movimento, aprendendo, resignificando o já significado, conhecido. Sob esse ponto, CURY (2006) diz:
“É inadmissível que a Psicologia, a Filosofia, a Sociologia, a Educação se fechem em torno de convenções exclusivas, pois elas nunca atingem a verdade real, pois possuem fenômenos de estudos essencialmente inacessíveis e sensorialmente intangíveis, e uma produção de conhecimento que sofre um sistema de encadeamento distorcido. Essa rigidez compromete a democracia das ideias e a expansão da própria ciência”. (CURY 2006, p. 58)
Teorias são utilizadas para explicar um momento e ao nos fixarmos a elas, paramos no tempo e deixamos de ser autores para sermos reprodutores do conhecimento. Com a internet ocorre o mesmo fenômeno.
Nesse sentido, Pedro Demo chama a atenção dos alfabetizadores, em seu vídeo: “Alfabetização em Três Anos”, para que construam suas propostas teóricas, para deterem um discurso fundamentado, fugindo do achismo, do senso comum. “Teoria é feita para libertar a mente, não para aprisioná-la.” (DEMO, 2009, p. 58)
Os variados estilos, conturbados, incompletos, suspeitos de produção online marcam o fenômeno “remix” na internet. Pedagogicamente falando, dois traços são apontados:
1º) A importância da autoria.
2º) A importância da relatividade desta autoria.
Uma vez que os textos foram publicados na internet, estes deixam de ser exclusivos de um único autor, passando a coletividade.
[1] S.f. Qualidade das matérias que podem ser moldadas; Psicologia: capacidade de um sujeito adaptar-se as condições ambientais. Dicionário online. Disponível em: WWW.dicio.com.br/plasticidade. Acesso em 10/01/2014.